O espelho

 E então, você conseguiu ver sua beleza? Esse foi um exercício muito difícil para mim, pois não me achava bonita e isso me trazia uma apatia por me arrumar. Usava peças bem básicas, cores neutras. Para mim, não havia roupa que pudesse me ajudar. De mais a mais, para que me arrumar, chamar a atenção das pessoas para minha aparência? Para ser abusada por outros? Admirava mulheres elegantes, cores vibrantes, mas aquilo não era para mim. Tinha que buscar valor de outra forma. Então me entregava completamente aos estudos. Era a primeira da classe. Ninguém podia imaginar o que eu passava, pois camuflava fazendo mais, fazendo o melhor. O espelho era meu inimigo, como tem sido para você; mas buscar a perfeição no que fazia isso sim me consolava. Tinha uma necessidade de me exceder em tudo, provar que podia que não havia nada difícil que não aprendesse ou fizesse. Apesar dos elogios e das medalhas, ainda me sentia sem valor. Era fechada e esperava muito pouco das pessoas para evitar decepção; achava que se merecesse um bom dia, já era muito. Eu tinha que me superar em tudo para me qualificar diante das minhas colegas. Se eu fosse a competente, despertaria algum interesse das demais e pelo menos me respeitariam. Enquanto isso, em casa, sofria; e o medo de falar algo e desapontar meus familiares me consumia. Era filha de mãe solteira e achava que viva ali pela misericórdia deles. Tinha que manter a aparência, tinha que sufocar a minha dor.

Dê um basta na violência contra a mulher!

Nenhum comentário:

Postar um comentário